3 Jun 2015

Nunca um disse tanto com tão poucas palavras


Tempos difíceis para profetas da catástrofe. Lembram-se de Mário Soares, exultante, a profetizar um "novo regicídio"? Doutores em sociologia, sindicalistas de TV, politólogos, oligarcas, vândalos de garganta, anunciaram pancadaria da grossa (o termo não era esse, mas já se sabe).

Foram três anos à beira do abismo. Na melhor das hipóteses morreríamos todos. Ontem, na rádio, um psiquiatra disse-se surpreendido porque os suicídios não aumentaram com a crise; em vez disso, as pessoas resistiram, ajudaram-se, encontraram formas de manter a cabeça erguida. Ele (e vários colegas de que me recordo, igualmente surpreendidos) esperava hara-kiris: as pessoas desiludiram-no. Sentado no gabinete, confiante, preparava-se para contar suicidas, feliz da vida – e nada; houve menos suicídios. Isto é um país medonho; está sempre a desiludir.


Correio da Manhã 03/06/2015

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