16 Jan 2011

A vidinha


O silêncio não é a falta de palavras
pois então não é que os pensamentos falam tanto
e por muito surdos que sejamos os ouvimos sempre?
O silêncio é a falta do que falta.


Há filme que fazem doer, este é um deles.
Em nenhures na Irlanda ainda consegue existir um nenhures pior.
É um posto de abastecimento de combustíveis onde um simplório local vai passando a vida e cuja maior excitação é colocar um expositor com óleos na parte de fora do barracão e dar umas maças a comer a um cavalo que pasta num cercado.

De vez em quando vai até à vilória onde no único pub local bebe umas cervejolas e origina as usuais graçolas dos outros.
Há ainda a loira que atrás de um balcão vai aviando umas coisinhas e fora dele deixou de ser aviada pelo garanhão local.
E que é a paixão secreta do simplório.

Então o patrão traz-lhe um garoto tímido e desajeitado cuja mãe acha que lhe fará bem um período de trabalho para ver como a vida é.
E entre duas criaturas tão distantes vai crescendo uma amizade baseada na solidão em que ambos vivem.
O drama chega pela mão de um camionista que lhe trás da Bélgica uma cassete vídeo pornográfica a qual na sua ingenuidade mostra ao garoto.
E num repente vê-se em problemas com a polícia através de uma denuncia da mãe e isto num momento em que a loira com a brutalidade que por vezes caracteriza as mulheres o coloca abaixo de um capacho apenas porque numa dança ele se deixou entusiasmar e lhe colocou a mão nas costas nuas.

O final é previsível e vem como uma libertação, a mesma que na cena final nos mostra o cavalo finalmente também livre a passear na estrada.
Pat Shortt compõe a personagem com tal realidade (até manqueja) que chegamos a duvidar que ele não seja real.

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